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  • pautasconectandosc
  • 30 de jun.
  • 2 min de leitura

Uma nova técnica de extração de ouro, desenvolvida por especialistas em química verde, engenharia e física da Universidade Flinders, na Austrália, promete unir o melhor de dois mundos: obter o precioso metal — cada vez mais demandado por bancos centrais e investidores —, porém de uma forma menos tóxica e ecologicamente segura para o planeta.


Divulgada recentemente na revista Nature Sustainability, a tecnologia tem metas ambiciosas. A primeira é reduzir a poluição da mineração tradicional, que emprega sais de cianeto e mercúrio metálico, e a segunda é explorar recursos desperdiçados no lixo eletrônico, criando uma solução duplamente sustentável.


A nova técnica usa substâncias atóxicas, eliminando a geração dos resíduos perigosos que, armazenados em barragens de rejeitos, eventualmente vazam e contaminam solo e água. Além disso, ao extrair ouro de alta pureza de placas de circuito impresso de computadores descartados, o método apresenta uma forma lucrativa de gerir outro grave problema ambiental: o lixo eletrônico.


O problema do lixo eletrônico e os riscos da mineração artesanal


O lixo eletrônico é uma das crises ambientais que mais crescem no planeta: só em 2022, foram geradas globalmente 62 milhões de toneladas, segundo o pesquisador líder Justin Chalker, das quais somente 22,3% foram adequadamente recicladas. Os resíduos, com substâncias perigosas — como dioxinas, chumbo e mercúrio — representam um sério risco à saúde pública.


A mineração artesanal de ouro emprega hoje entre 10 e 20 milhões de pessoas em mais de 70 países, incluindo 5 milhões de mulheres e crianças. Esses trabalhadores utilizam mercúrio para formar amálgamas com ouro, liberando vapores tóxicos durante o aquecimento. Essas operações geram 37% da poluição mundial por mercúrio, causando intoxicação em 33% dos mineradores.


Apesar de produzirem 20% do ouro mundial e gerar US$ 30 bilhões anuais, esses garimpeiros permanecem economicamente excluídos e vulneráveis. Sem acesso ao financiamento formal, mineradores são obrigados a vender ouro por apenas 70% do valor de mercado. O desamparo e a falta de treinamento perpetuam o uso de mercúrio nessas comunidades marginalizadas.


No estudo, Chalker e seus colegas criaram um método inédito de extrair ouro de lixo eletrônico, usando um reagente reciclável derivado do ácido tricloroisocianúrico, um desinfetante de piscinas. A técnica dissolve o outro em água salgada, e depois o captura em um novo polímero sorvente reciclável rico em enxofre, que se liga seletivamente aos íons de ouro, que é recuperado.


A ideia é substituir práticas perigosas, como o uso de cianeto ou mercúrio na mineração, reduzindo riscos à saúde e ao ambiente. A equipe trabalhou em colaboração com parceiros nos EUA e no Peru, buscando validar a técnica em minérios reais e oferecer alternativas às operações artesanais, que ainda empregam mercúrio, um dos granes poluidores dos rios amazônicos.


Além de reduzir impactos ambientais, a solução pretende recuperar ouro de materiais eletrônicos cada vez mais abundantes e valiosos. Em um comunicado o coautor Harshal Patel afirma: "Mergulhamos em um monte de lixo eletrônico e saímos com um bloco de ouro! Espero que esta pesquisa inspire soluções impactantes para desafios globais urgentes".

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